Hanna Vasko



A Ucrânia presenteou-nos a conceituada Hanna Vasko que, com metade da sua vida dedicada ao estilismo de unhas e à vida empresarial ligada ao setor da beleza, apresenta-se como uma verdadeira mulher dos sete ofícios. Fique a conhecer o trabalhoso percurso que a levou ao sucesso, de uma forma transparente e sem a armadura que a sua posição a obriga a adotar. Um exemplo de que o empenho e o gosto nos fazem chegar, sem dúvida, onde mais desejamos.




O que a motivou a vir para Portugal?

A razão não foi das melhores, na altura divorciei-me e não foi um divórcio fácil. Quando vim da Ucrânia, a 1 de dezembro de 2000, às 3 da manhã, a primeira paragem foi em Lisboa, na Gare do Oriente. Ainda hoje não consigo explicar o porquê de ter vindo para Portugal, mas quando cheguei só dizia “eu vou viver aqui” e, por coincidência, acontece que vivo mesmo cá. Depois da volta que dei pelo país inteiro, é engraçado como vim parar ao ponto de partida.
Estando em Portugal nunca consegui trabalhar nas áreas em que me formei (arquitetura paisagista e pedagogia na área da química e da biologia), devido a todas as dificuldades linguísticas e tinha de se fazer a equivalência à profissão, iria despender muitos anos e não tinha ninguém que me pudesse ajudar. A minha família é que dependia de mim, a minha mãe, os meus dois irmãos e o meu filho ficaram na Ucrânia. A minha mãe criou-nos sozinha e eu, como filha mais velha, era uma espécie de “pai” da família. A minha vinda para Portugal não era para estudar e receber dinheiro da minha mãe, pelo contrário, tinha de trabalhar, e trabalhar muito, cheguei a ter quatro ou cinco empregos ao mesmo tempo.


Começou por trabalhar em que área(s)?

Comecei a trabalhar no ramo da hotelaria e das limpezas. Só em 2003 é que comecei a entrar na área do setor da beleza, nessa altura ainda existia a carteira profissional de esteticista. A estética até era mais para mim, a nível pessoal, não tinha planos em seguir a área como profissional e muito menos a área das unhas, de todo. Os cursos de estética eram dados oralmente em poucas horas, era dado mesmo o mínimo. No entanto, aquilo fascinou-me. Sempre usei as unhas naturais super compridas, não precisava de usar extensões, mas achei curioso como era possível de facto construir.
A oportunidade para começar a trabalhar no setor da beleza surgiu numa fila de supermercado (risos). Estava uma senhora à minha frente, proprietária de um cabeleireiro, a queixar-se da funcionária que se tinha despedido. Não sei onde ganhei coragem, ainda não falava muito bem português, mas abordei-a e perguntei-lhe se estaria interessada em que trabalhasse para ela. Onde trabalhava na altura, no Algarve, em hotelaria, tinha muito boas garantias, a nível monetário passei de cavalo para burro, passei a receber o ordenado mínimo no cabeleireiro, 365 euros, como ajudante. Gostava muito de trabalhar lá, a minha patroa gostava também muito de mim e achava que ia ser a melhor cabeleireira do mundo.
A minha mãe ia-me enviando revistas de estética e de cabelos da Ucrânia, e foi numa dessas revistas que vi uma publicidade de formação de unhas em acrílico, em Kiev. Liguei para lá e tratei de tudo para ir durante umas férias que tive do salão. Quando voltei propus à Dona Paula, a proprietária do cabeleireiro, introduzir uma área de unhas ali no salão, disse-me logo que não! A esteticista, que também lá trabalhava, tinha planos para abrir um espaço dela e até combinámos que me iria juntar, para me dedicar à parte das unhas, mas nada feito.
Só podia continuar em Portugal com um visto de trabalho, e trabalhando por conta de outro não podia abrir o meu próprio espaço, sozinha não ia conseguir. Foi então que, aos 23 anos, coloquei um anúncio no jornal Algarve 123, à procura de um sócio, algo que seria impensável fazer agora (risos). Passado uma semana, fui contactada por um senhor que acabou por ser o meu sócio, sendo que eu detinha 95% da empresa.




Uma vez inserida no mundo da estética, quando começou a trabalhar por conta própria?

A 1 de março de 2004 abri o meu primeiro estúdio de unhas, num segundo piso, no centro de Lagos, no Algarve. Toda a gente dizia que era uma “casa para limar unhas”, a profissão ainda não era levada a sério. O que fez o negócio crescer foi o passa palavra, abordava funcionárias que trabalhavam em atendimento ao balcão e arranjava-lhes as unhas, serviam de “montra” do meu trabalho. Lagos é uma cidade pequena, mas acabei por abranger o Algarve todo, na altura era novidade, sempre lutei por fazer algo diferente.
Em 2007 consegui comprar uma loja com condições espetaculares, desta vez num rés do chão, na periferia de Lagos. Estávamos a viver em tempos de crise, no entanto, a nível de faturação, o meu espaço aumentou 3/4 vezes mais. O que acabou também por me levar ao esgotamento, trabalhava das sete à meia-noite, sem folgas, sem férias. Nesta altura trabalhava só para o consumidor final, era um espaço onde só se arranjavam unhas. A partir daqui, comecei a pensar de que teria de fazer mais alguma coisa, senão morria ali como uma máquina de fazer unhas, chegava a ter 10/12 clientes por dia, todos os dias.
A nível das formações não me imaginava a dar, tinha muita vergonha, ainda não falava bem a língua e questionava-me muitas vezes: “mas quem sou eu para dar formação?”. No entanto, a pouco e pouco, comecei por dar aulas de demonstrações, master classes, algo muito soft. Nesta altura já havia muita procura, não existiam muitos espaços que davam formação.
Nunca quis estar ligada a nenhuma marca, sempre defendi a qualidade de uma formação, independentemente do produto. Não tenho espírito de vendedora, se não tiver a certeza de que um certo produto é bom e útil, nunca na vida consigo impingir nos outros.




Como foi a passagem do Algarve para Lisboa?

A passagem do Algarve para Lisboa foi muito complicada, estava insegura se a parte das formações iria resultar. Durante quatro anos, de segunda a quarta-feira dava formação em Lisboa, em pós-laboral em Cascais, ainda às quartas voltava à noite para Lagos, para de quinta-feira a domingo estar a atender as clientes. Foi horrível. Foi aqui que percebi que tinha de começar a meter os pontos nos “is”. Acabei com os pós-laborais, mas ainda andava entre Lagos e Lisboa.
Por volta de 2010, abri a primeira loja em Lisboa, na Quinta das Conchas, não tive grande retorno, mas ainda dei algumas formações.
Foi então que decidi dar uma grande volta e abrir uma na Avenida António Augusto de Aguiar. Como e porquê não faço ideia, a renda era altíssima, foi algo que me desafiou a esforçar ainda mais. Entretanto, em 2014, trespassei o espaço de Lagos e mudámo-nos para onde estamos hoje, no Parque das Nações, loja e formações. Em agosto de 2018 abrimos o salão do outro lado da rua.
Mudar de vez para Lisboa custou imenso! Criam-se laços com os clientes e é sempre difícil deixar para trás. Estive lá 12 anos consecutivos, era um ambiente muito familiar, toda a gente se conhecia, foi um bom ambiente para o meu filho crescer.


O seu trabalho ficou reconhecido em pouco tempo, fale-nos sobre este sucesso repentino.

A partir do momento em que me mudei de vez para Lisboa, em 2014, em 3/4 anos bastou para fazer toda a minha carreira seguida, desde estúdio, academia, loja, revista e programa de televisão, realizei-me a 100% na minha profissão. Claro que continuo a ter muito mais para dar e continuo a fazer por isso.
Fiz ainda parte da criação da Associação de Estilismo de Unhas, onde fui presidente, mas alguns desentendimentos internos e o falecimento da minha mãe impulsionaram a minha saída, em 2018. Quando se perde um familiar há muita coisa que repensamos e que deixamos de dar importância.




Não pensa em voltar para a Ucrânia? Como é o mercado de unhas lá?

Desde que vim para Portugal, com 20 anos, depois de sair de casa da minha mãe aos 15, disse à minha família para não se preocupar, contar sempre comigo e que não pretendia de forma alguma voltar a viver lá. Visitar claro que sim, todos os anos o faço, mais do que uma vez até. Se voltasse agora seria como emigrar novamente, já me sinto muito mais portuguesa do que ucraniana, metade da minha vida foi passada cá. Na Ucrânia estudei e tive o meu filho, mas estes vinte anos que estou em Portugal, tiveram muito mais peso na minha vida do que os vinte que passei na Ucrânia.
O mercado de unhas é muito mais desenvolvido na Rússia, Ucrânia e Hungria, é de lá que vêm as tendências, mesmo nas áreas da estética e dos cabelos.


Continua a praticar a arte de estilismo de unhas tanto quanto queria ou a parte de empresária rouba-lhe mais tempo?

Desde há muito tempo que a minha vertente de empresária me rouba muito tempo. A parte criativa, criação de técnicas, desenvolver formações e atender clientes acabou por ser ultrapassada. A parte de vendas não é o meu forte, por isso, dedico-me imenso, estudo e pesquiso, para ter mais noção neste campo.
Gosto de ver resultados imediatos, mas não com uma venda, em que se vende e recebe o dinheiro, para mim, não é interessante. Interessante é todo o processo, a criação das unhas, o antes e o depois, ver a satisfação do cliente e o crescimento das alunas após as formações.




Atualmente, o agendamento de formações da academia encontra-se disponível para os próximos meses. Fale-nos sobre a academia e as mais valias que traz às profissionais.

Sempre investi muito na parte das formações e pesquiso, constantemente, o que poderá ajudar as alunas a aprender de maneira mais fácil e rápida. Implementei módulos como o posicionamento de negócio, a elaboração do preçário e a esterilização dos materiais, praticamente ninguém ensina isto. Para além de todos os módulos de formação, temos todo o percurso pedagógico e acompanhamento pós formação onde as formandas expõe as suas dúvidas. Ninguém passa no exame se não conclui os mínimos para passar, por vezes, quando chumbam, choram e ficam amuadas, mas a escola é conhecida por ser exigente, digo-lhes sempre, “minhas queridas, se vieram cá e pensam que estou a vender certificados, estão enganadas, a porta está ali”, ou sabem ou não sabem.




As formações online representam cada vez mais o futuro? Têm grande procura ou são usadas como um complemento?

Eu tenho as duas versões, sempre vi as formações online como o futuro. Temos uma plataforma com as aulas onde se pode entregar trabalhos de casa que são avaliados, têm testes e exames. As formações presenciais é que começam a ser um complemento às formações online. A parte teórica talvez seja mais fácil presencialmente, mas a nível prático, no formato online, podem voltar atrás as vezes que quiserem, tudo é explicado ao pormenor: como devem posicionar a mão, o pincel, etc. Não excluo de todo a parte presencial, até porque gosto imenso de lidar com as pessoas.


Os espaços, os produtos e os serviços Hanna Vasko, em que se distinguem dos restantes disponíveis no mercado?

Estive durante muitos anos seguidos a trabalhar atrás de uma mesa a atender muitos clientes, como costumo dizer: “como um cão preso à casota”. Senti muitas necessidades e percebi o que era ou não viável, o que é melhor e me poupa tempo, consegui tirar o máximo dessa experiência, tanto para a parte das formações como para a parte dos materiais. Como estive nessa situação, consigo compreender perfeitamente quem está atrás da mesa, com 10/12 clientes num dia era necessário haver organização. Artistas e organização não são compatíveis, mas aí tinha de ser organizada, a cliente chegava e já tinha de estar tudo pronto para a receber.




Com o Beauty Palace, a Academia Nail Art Design, a revista Nail Couture, os programas de televisão, inclusive o primeiro reality show Nails Home 2017, sente-se concretizada? Qual o próximo projeto?

Sinto-me concretizada a 100%! Avançava já para outra coisa qualquer, sou uma pessoa criativa não me assustam outras áreas, seja costura ou a cozinha. Penso muito em unir o setor da beleza, sempre tive o sonho de juntar os profissionais, de os unir, o que até aos dias de hoje ainda não se concretizou.


CURIOSIDADE




Sabia que Hanna Vasko poderia ter seguido a profissão de cirurgiã plástica?

“O meu pai era uma pessoa muito influente na Ucrânia, se a minha mãe tivesse permitido que ele convivesse comigo, teria sido capaz de entrar para medicina e seguir cirurgia plástica, aquilo que sempre sonhei. Podia ter tido outra vida completamente diferente, no entanto, não sei até que ponto iria ser feliz como sou hoje. Assim, desde os 13 anos, sabia que tinha de trabalhar e ajudar a minha mãe. Não sinto a falta de ter “perdido a adolescência”, agora tenho um filho de 24 anos super despachado, independente já há muitos anos, tenho a vida feita e agora posso aproveitar com todas as possibilidades”.


 


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