Às sete da tarde, após um dia intenso que começa sempre com oito quilómetros de corrida, seguido de reuniões, sessões fotográficas, experiências alquímicas e momentos de criatividade, Susana Rodrigues ainda tem uma energia invejável para conversar durante duas horas e abrir as portas da sua vida pessoal e profissional.

Mas quem é Susana Rodrigues? Ninguém sabe. Nem o Google. Mas é uma questão de tempo. A criadora da Nails 21, marca de Estilismo de Unhas com 17 anos no mercado, é uma mulher inspiradora e uma empresária de sucesso que humildemente construiu um império quase que por acaso.

Começou a trabalhar cedo nas empresas da família e com 20 anos já tinha os seus próprios negócios. Havia um negócio de família de produtos para animais de estimação e Susana Rodrigues começou então a trabalhar nas suas lojas, dessa área. “Nas lojas dediquei-me à tosquia artística de cães”, lembra. Para isso formou-se nos Estados Unidos, onde fez parte de uma das equipas campeãs do mundo. “Eu tinha tesouras de tosquia que custavam na altura 700 euros e sentia necessidade de ter as mãos embelezadas com unhas decoradas e longas. Fazia parte do show”, diz.

Nessa época, o estilismo de unhas nos Estados Unidos já era uma prática comum, sempre que Susana Rodrigues viajava para lá embelezava as unhas mas, quando voltava a Portugal, não conseguia fazer manutenções. Assim, procurou uma marca na Europa para começar a fazer a si mesma e algum tempo depois já a representava. Depressa iniciou o projeto que deu origem à Nails 21.

Hoje, 17 anos depois, a marca está sediada com laboratórios próprios em Portugal, Brasil e Taiwan, e é vendida em mais de 140 países.




O nome Nails 21 surgiu por que a marca teve a sua fase embrionária na Avenida João XXI, local onde também a empresária nasceu e onde tem uma forte implantação com vários espaços comerciais não só de estética.

“Desde o início senti que tínhamos que formar as profissionais com muita responsabilidade nesta nova área. Uma nova profissão que me orgulho de ter dado o nome de Estilista de Unhas, para distinguir estas profissionais, da tradicional profissão de manicure. Hoje quando vejo o mercado falar de Estilismo de unhas, sorrio e lembro o dia em que com uma amiga dentro do meu carro a passar Magestil na Av. do Aeroporto, reparei num anuncio de formação de estilistas para a àrea têxtil e ‘Bingo!’, decidi que tinha o nome para a profissão que, numa altura de crise económica, conseguiu trazer sustentabilidade financeira a muitas famílias. Lutei sozinha para que esta profissão fosse reconhecida e consegui a primeira certificação, por parte do Ministério da Educação, para a Nails 21. Até hoje, somos a entidade formadora com mais profissionais certificadas no ativo. Sempre que uma Estilista de Unhas apresenta o nosso diploma a uma entidade patronal, tem facilmente colocação no mercado de trabalho. É um reconhecimento de que muito me orgulho, que se deve a todas as formadoras Nails 21 de Norte a Sul do país, mas acima de tudo à Renata Souza, diretora da Formação a nível nacional” afirma Susana Rodrigues.


VELOCIDADE FURIOSA

A Nails 21 tem vindo a crescer e hoje é parte integrante de uma holding que está sediada em quatro continentes. Cumprir com as normas legais de exigência do fabrico destes produtos cosméticos na Europa, América Latina e Ásia faz a Nails 21 estar na linha da frente em termos de qualidade.

“Somos uma indústria, mas uma empresa familiar apesar disso. Podia ter mudado há uns anos, quando recebemos propostas de empresas para nos absorver. Ainda vacilei um bocado, mas os meus filhos aconselharam-me a não o fazer. Se não tivesse o sangue novo e a visão de mercado deles, tinha aceite. Era uma proposta fantástica…”, revela.

A empresária cuja radiosa pele não revela os seus 50 anos de idade, não tira férias há três anos. “Ninguém pode ter sucesso sem ser escravo do mesmo, porque as coisas viram uma bola de neve e temos de acompanhar as responsabilidades”, afirma. Mas isso não a incomoda: “Todos os dias são uma nova oportunidade e não perco uma. Gosto de ganhar dinheiro e não me via a estar sem fazer nada. Mas se não tivesse as empresas, existiam imensas coisas que gostaria de fazer. Queria voltar para a faculdade, dedicar-me aos meus hobbies, viajar mais e, principalmente, ter mais tempo para a minha mãe”, revela.




Segundo Susana Rodrigues existe só uma maneira de vingar profissionalmente: capacidade de esforço, trabalho e muita entrega. “Quando se trabalha com verdade e de verdade, tudo se torna fácil. Porque é que uns conseguem e outros não? Isso não sei... mas sei que com profissionalismo, força de vontade e sem receios, as coisas acontecem”, assegura.

“Gosto muito de rir no trabalho, mas há dias que também me apetece chorar porque me deixo absorver imenso”, revela. “O meu maior defeito é a minha cabeça andar a uma velocidade tão grande que dificilmente me conseguem acompanhar. Por isso, às vezes zango-me porque as pessoas não me entendem e isso não é bom”, confessa.




IDEIA DE CRISTINA VERNIGEL

A Nails 21 trabalha somente com produtos de primeira linha. “Estamos na àrea confortável do produto gourmet e as profissionais mais exigentes reconhecem a nossa qualidade. No entanto, chegámos a um produto novo, elaborado com uma resina especial e pigmentos alimentares de qualidade, feito para venda massiva e foi aí que entrou a ideia da Cristina Vernigel”, refere Susana Rodrigues.

Cristina Ferreira, a mais recente estrela da SIC, juntou-se à Nails 21 para lançar uma gama de produtos para unhas acessível a todos. “A Cristina foi abordada por mim e rapidamente criámos a marca. Foi uma surpresa constatar a sua grande capacidade de visão empresarial. Para além de muito trabalhadora, é muito fácil de lidar, o que é incrível porque tem o mesmo ritmo alucinante que eu”, afirma Susana Rodrigues.

Segundo a empresária, os produtos da marca Cristina “estão exatamente no mesmo paralelo de exigência de qualidade dos da Nails 21: não têm parabenos, benzinas, extratos de petróleo, nem aditivos nenhuns que os façam ter uma vida maior do que aquilo que o produto natural exige. O que os torna mais competitivos é terem este tipo de resina especial”, explica.




DA CRIAÇÃO À APROVAÇÃO

Como nasce um produto e quais as exigências para o lançar? Começa com manuseamento de pequenas porções de alquimias. Depois é testado pelos estilistas de unhas que dão o seu parecer. Não é testado em animais. Apenas em humanos, com o consentimento expresso de cada um. Quando se chega a algo que interessa, são feitos dez quilos de produto e informa-se a Autoridade Legal dos países onde pretendemos fazer a sua comercialização, de todos os ingredientes que o produto tem, bem como o respetivo lote. O produto fica selado e posteriormente recebe o aval ou não. Nunca vimos um produto nosso ser rejeitado. Explica Susana Rodrigues.




FUTURO EM ABERTO

Susana Rodrigues orgulha-se de ter um conjunto de parceiros altamente competentes e fiáveis a trabalhar consigo que facilitam e simplificam processos e ajudam a desenvolver novos planos e projetos.

Num futuro próximo a empresária vai lançar linhas de bio cosméticos, entre outras surpresas que não pode ainda revelar. Para além disso, espera ter tempo para estudar. “Se eu não voltar a estudar passei por esta vida sem levar para a outra o que gostava de saber”, diz.




SAPATOS DOURADOS

Filha de pai transmontano e mãe nascida na Vila saloia de Caneças, Susana Rodrigues aprendeu muito com os pais que, ambos com apenas a quarta classe, conseguiram do zero criar uma empresa de sucesso. Para além disso teve o exemplo de uma tia que ficou viúva muito cedo, criou três filhos e hoje tem um império.

“Os meus avós maternos e paternos viviam de vender árvores de fruto, eram feirantes. Eu também cheguei a vender na Feira de Azeitão e da Malveira com eles enquanto jovem para ter o meu dinheiro. Venho de uma família honesta e muito trabalhadora com muitas histórias que encorajam e fazem crer que tudo é possível.  Lembro sempre uma em especial. Uma das minhas tias que hoje tem 86 anos e ainda trabalha, tinha sete anos e nunca tinha calçado uns sapatos. Foi fazer uma feira com o meu avô e esta provavelmente correu-lhe tão bem que ele a levou a comprar um par de sapatos. Ao voltarem da feira a pé com a burra a transportar o resto do material da feira, a minha tia guardou os seus novos sapatos na albarda para os poupar. Quando chegou à aldeia viu que tinha perdido um dos sapatos... Apesar de um início de vida menos fácil, eu sempre vi esta mulher trabalhar com verdade. Por isso não vale a pena achar que se tem de nascer com sapatos dourados para se chegar longe”, afirma Susana Rodrigues.